Por Leandro Resende
À primeira vista,
Adilson “BG” é uma figura intimidadora, tanto pela elegância
quanto pela cara de mau. Eram as primeiras horas da última
quarta-feira (16), e ele trajava terno branco impecável, parado
diante de uma porta no segundo andar do restaurante Rei do Bacalhau,
em Duque de Caxias. O semblante fechado é mera fachada, mas cumpre
de forma eficiente o papel de passar “respeito”, se é que esse é
o objetivo. “BG”, na realidade, é dono de fala mansa e sorriso
largo, e há 15 anos é segurança do grupo de pagode Molejo, atração
principal do JUCS deste ano, em Vassouras. Foi ele quem previu o que
a equipe de Ecos do JUCS encontraria minutos depois, ao passar pela
porta que ele guardava para conversar com Anderson Leonardo e sua
trupe.
- São os caras mais
humildes do mundo. Não importa o público, eles fazem show igual se
for para uma ou para cem mil pessoas.
Naquele dia, o Molejo
de certo não encontrou o público com o tamanho e animação que
encontrará em Vassouras, no dia 2 de maio. Tinha sido uma
terça-feira chuvosa, e o pagofunk do Rei do Bacalhau não recebia o
público que geralmente lota a casa. No acanhado camarim do grupo,
baldes com água e cerveja, além dos cabides com as roupas que
usariam no show daquela noite. Descontraídos, falavam sobre a
polêmica final do Campeonato Carioca entre Flamengo e Vasco,
disputada dias antes.
- Foi uma visão do juiz naquele momento. Erro é erro – justificava o flamenguista Anderson Leonardo, cavaquinho e voz de sucessos imortais dos anos 1990, como “Cilada”, “Brincadeira de Criança” e “Dança da Vassoura” - Mas uma coisa que você tem que saber é o seguinte. Eu, Anderson, sou Flamengo, mas o Molejo é de todos os times.
Claumirzinho endossa o coro do amigo. O percussionista rubro-negro lembra do “Samba Rock do Molejão”, escrito por ele e Anderson, mas cantado pelas torcidas de Atlético – MG e Vasco até hoje.
- Em 1999, o Edmundo
foi lá e fez o “colé, colé”, depois de marcar gols em cima do
Flamengo. Torcíamos para ele fazer mais gols e comemorar mais
ainda, era bom para gente – relembra, por mais incoerente que
possa parecer um flamenguista torcendo para um vascaíno.
Essa tipo de postura
também vai de encontro com outro aspecto do Molejo apontado por “BG”
antes da entrevista: segundo ele, trata-se do único grupo de pagode
querido por todos os jogadores de futebol, “velhos e novos”. Os
velhos, da década de 1990, são amigos da época do auge nas paradas
de sucesso “uma época de ouro”, segundo Anderson Leonardo. Os
novos se aproveitam de um “revival” recente de um pagode não
tão antigo assim, mas que trouxe Só Pra Contrariar e Raça Negra de
volta ao noticiário, por exemplo. Dentro dessa onda, o Molejo
agradece ao público universitário pelo retorno ao sucesso.
- O Molejo nunca
parou, mas ficamos longe dos grandes centros. Foi justamente essa
galera universitária que foi nos buscar e deu uma força para
gente, pedindo para irmos tocar nossas músicas antigas. Nós já
temos festas de formatura para tocar até 2019 – comemora
Anderson.
A gratidão não fica
só no discurso: basta olhar nas capas dos álbuns mais recentes da
banda para encontrar o selo “Pagode Universitário”. Eles relatam
que já foram em chopadas e competições universitárias por todo o
Brasil, do interior de São Paulo a Goiás, passando pelo Espírito
Santo e Minas Gerais. Hoje, já estão calejados e cientes da
rivalidade sadia entre diversas faculdades, e esperam não passar
por eventuais constrangimentos.
- O cara já mandou
eu falar um “chupa fulano”, para uma outra faculdade. Aí fui
numa outra, tinha me esquecido, falei um negócio diferente.. Foi
uma confusão. Mas a gente agradece a todas – resume o cantor.
Recentemente, o Molejo
gravou DVD no Barra Music, casa de shows do Rio com estrutura
certamente superior a de muitas chopadas e festas universitárias
pelas quais a banda já passou. Para Claumirzinho, isso não é um
problema.
- A gente tem noção
do esforço feito para que a gente tivesse ali. Eles são as estrelas
da festa, eles que escolheram o Molejo para aplaudir – explica.
Anderson completa – Os caras fazem esse esforço e a gente vai
reclamar de uma iluminação que não está boa? Além do mais, tão
pagando nosso din-din...
Se a relação do
Molejo com o ambiente universitário lhes permitiu o uso justo do
rótulo “Pagode Universitário”, a relação deles com o esporte,
antes restrita às canções de arquibancada, ganhou novo fôlego
neste ano. Durante a disputa das Olimpíadas de Inverno em Sochi, na
Rússia, “Dança da Vassoura” virou uma espécie de Hino
Brasileiro do Curling, modalidade esquisita que consiste em empurrar
um disco usando uma espécie de rodo sobre o gelo, mas que não
decide nada no JUCS, então só a história importa, não as regras.
- Um menino do site
Globo Esporte fez uma paródia com a música, e isso tomou uma
proporção grande. A matéria ficou show, e acabamos nos tornando
os divulgadores do curling – relembra Anderson, seguido pelas
reclamações do congelamento dos pés durante as gravações das
matérias, feitas pelos outros integrantes.
Com a mesma
cordialidade com a qual nos receberam, o Molejo pediu licença antes
de encerrar o papo, não sem antes gravar uma convocação para os
Jogos e receber uma camisa da UFRJ de presente. Muito mais fácil que
rimar com JUCS, tudo rima com Molejão. Até Vassouras!
Edição do vídeo: Daniel Vinagre
Câmera: Gabriel Padilha e Daniel Vinagre
Áudio: Marcus Padilha e Pedro Souto
Apoio: Miler Alves